OUTRAS PIRÂMIDES

(Parte 3)

 

(A Pirâmide de Teti)
 


O faraó fundador da VI dinastia, de nome Teti, e que reinou aproximadamente entre 2323 e 2291 a.C., construiu sua pirâmide em Saqqara, localizando-a a nordeste da pirâmide de degraus. O nome que os antigos egípcios lhe davam era Pirâmide que É Duradoura de Lugares ou, segundo outros autores, Duradouras São as Moradas de Teti. Trata-se de um monumento menor se comparado com as edificações anteriores, já que atingia apenas 52 metros e 50 centímetros de altura, mas de considerável importância em virtude dos textos que contém.
 

(A Pirâmide de Pepi I)
 

Pepi I foi o segundo faraó da VI dinastia. Reinou, aproximadamente, entre 2289 e 2255 a.C. e construiu sua pirâmide em Saqqara, em posição mais ao sul do que a de Teti, seu antecessor. Ela é baixa se comparada com as anteriores, pois sua altura era de apenas 52 metros e 50 centímetros, o correspondente a um prédio de 17 andares. Foi nesse monumento que os arqueólogos encontraram pela primeira vez, em 1881, os assim chamados textos das pirâmides. No tempo dos antigos egípcios o nome dessa construção era Mennufer (Durável em Beleza). Já na XVIII dinastia o nome se estendeu a toda a cidade formada em torno dela a partir do núcleo original ali estabelecido pelos sacerdotes e funcionários da pirâmide. Esse nome, através do copta Menfe, foi transformado pelos gregos em Mênfis. Outras traduções que os autores apresentam para o nome desta pirâmide são: Pirâmide Estabelecida e Bela ou Pepi É Estabelecido e Belo.
 

(A Pirâmide Merenre)
 

O sucessor de Pepi I, Merenre, que reinou entre 2255 e 2246 a.C., aproximadamente, também construiu sua pirâmide na parte sul de Saqqara. A ela os antigos egípcios davam o nome de Pirâmide Brilhante e Bela ou de Merenre Resplandece e É Belo, segundo outros autores. A exemplo dos monumentos construídos pelos seus dois antecessores, esse tinha 52 metros e 50 centímetros de altura e seu interior trazia inscritos nas suas paredes os textos das pirâmides.
 

(A Pirâmide de Pepi II)

O último faraó da VI dinastia foi Pepi II. Tendo ascendido ao trono ainda criança, reinou por 94 anos (c. de 2246 a 2152 a.C.), o que faz desse reinado, de longe, o maior de toda a história do antigo Egito. Seu complexo piramidal situa-se em Saqqara, a pouca distância ao sul dos monumentos de seus dois predecessores. O nome que os antigos egípcios davam a esse monumento era Pirâmide Estabelecida e Viva ou, segundo outras versões, Pepi É Estabelecido e Vivo. Infelizmente os arqueólogos só conseguiram recuperar os alicerces do conjunto e praticamente nada de sua estrutura. Apesar disso, o trabalho arqueológico foi suficiente para mostrar o projeto padrão de tais conjuntos em sua forma final e mais altamente desenvolvida.

Como várias pirâmides da mesma época, esta foi construída com pequenas pedras ligadas com argamassa feita com o lodo do Nilo e revestida com uma cobertura de pedra calcária. Sua altura original era de 52 metros e 50 centímetros. Como característica única ela apresentava ao redor de toda a sua base uma faixa de alvenaria revestida de pedra calcária. Medindo cerca de seis metros e 40 centímetros de largura, essa faixa se elevava ao nível da segunda ou, talvez, terceira camada de revestimento do monumento e só se interrompia na face leste, no trecho em que o templo funerário encosta na pirâmide. Os arqueólogos supõem que essa faixa foi construída para reforçar a estrutura do monumento que fora abalada por alguma influência externa como, por exemplo, um tremor de terra.

O corredor de entrada da pirâmide (1), partindo de sua face norte, descia de forma acentuada por uma curta distância e depois seguia horizontalmente por outro tanto até atingir um vestíbulo quadrado (2) situado entre o serdab (3) e a câmara funerária (4). No começo da seção horizontal o corredor se tornava mais largo e mais alto, formando uma espécie de câmara (5). Nesse local foram encontrados fragmentos de vasos de alabastro e diorito inscritos com o nome do faraó Pepi II e de alguns de seus predecessores. Os textos das pirâmides estavam esculpidos não só nas paredes desse recinto, mas também em todo o restante dos subterrâneos, com exceção do serdab, das partes do corredor revestidas de granito e da extremidade oeste da câmara funerária, junto ao sarcófago (6), onde as paredes eram revestidas de alabastro decorado com a falsa-porta e um painel desenhado. Havia ainda um conjunto de três portas levadiças (7) que bloqueavam o corredor de entrada, não permitindo o acesso à câmara funerária após o sepultamento. Junto ao canto sudeste da pirâmide principal localizava-se a pirâmide subsidiária.

Logo na entrada do templo funerário havia um corredor transversal (1) cuja finalidade era permitir o acesso a dois compartimentos, um em cada extremidade do corredor, nos quais se localizavam os lances de escada que atingiam o telhado. No centro do corredor havia uma passagem que levava ao vestíbulo de entrada (2), com paredes decoradas com relevos. Uma dessas imagens mostrava o faraó caçando hipopótamos a partir de um bote feito de junco. Logo após o vestíbulo existia um claustro (3) de arquitetura bem simples se comparado com idênticos recintos de construções anteriores. Dezoito pilares de quartzito avermelhado suportavam o teto, mas não imitavam palmeiras ou papiros, sendo simplesmente colunas monolíticas retangulares decoradas em sua face externa apenas com figuras do rei e de um deus. O piso do recinto era de lajes de pedra calcária e, ao que parece, suas paredes não estavam revestidas de relevos. No espaço que rodeava o claustro e o vestíbulo de entrada estava situado um grande grupo de armazéns.

Passado o claustro havia um corredor central transversal (4) que já se situava dentro dos muros que cercavam a pirâmide e que permitia acesso ao espaço que a rodeava através de portas localizadas em suas extremidades. Foram encontrados alguns fragmentos dos relevos que decoravam as paredes desse corredor. Um deles mostra o faraó golpeando na cabeça com uma maça um comandante líbio capturado. A esposa e dois filhos do oficial líbio a tudo assistem implorando clemência. Essa cena é uma cópia de outra quase idêntica existente no templo funerário do faraó Sahure (c. de 2458 a 2446 a.C.). Até o nome da mulher e dos dois filhos do líbio foram repetidos. O fato nos é explicado pelo egiptólogo I.E.S.Edwards: Essa quase exata duplicação de uma cena nos templos de dois reis cujos reinados estão separados por cerca de dois séculos fornece prova conclusiva de que os relevos dos templos não necessariamente registravam episódios históricos da vida do rei; todas as evidências, na realidade, demonstram que eles visavam descrever a vida ideal que o rei desejava levar no além-túmulo. Ainda no corredor transversal outras cenas mostram o faraó participando de cerimônias rituais destinadas a restituir fertilidade ao solo do Egito. Numa delas ele aparece, usando a coroa do Alto Egito e portando nas mãos um mangual, correndo entre algumas balizas de pedra colocadas a certa distância umas das outras. Em outra o rei aparece em pé ao lado de um alto mastro suportado por quatro escoras de madeira. Dois homens são representados no ato de trepar nas escoras, enquanto que ajudantes seguram cordas amarradas tanto nas escoras quanto no mastro.

Pela parte central do corredor podia-se atingir um pequeno pátio (5) que continha cinco nichos para estátuas, as quais não foram encontradas. Portas duplas de madeira impediam as estátuas de serem vistas, a não ser em ocasiões em que os rituais exigissem sua exibição. Do pátio uma passagem à direita levava a um pequeno grupo de armazéns; outra passagem à esquerda conduzia a uma estreita câmara de distribuição. Nesta um relevo mostrava uma gigantesca figura do rei brandindo uma maça sobre as cabeças de um grupo de cativos estrangeiros. Por trás do faraó uma pequena figura humana representava o seu ka, atuando como seu protetor. Mais adiante a deusa Seshat anotava num rolo de papiro o número de cativos sacrificados e a quantidade de butim conseguido. Cenas semelhantes foram encontradas em vários templos funerários. A conclusão a que os estudiosos chegaram foi a de que ali se realizavam cerimômias periódicas para comemorar vitórias obtidas em tempos antigos pelos egípcios sobre seus vizinhos estrangeiros. Provavelmente destinadas à mesma finalidade ritual, existiam nesse templo e em outros mais antigos estátuas representando cativos ajoelhados, às quais faltavam parte dos braços. De todas as estátuas desse tipo, nenhuma foi encontrada intacta e a maioria parece ter sido mutilada deliberadamente. É possível que tenham sido usadas como substitutas de seres vivos, já que a mentalidade egípcia repugnava o sacrifício humano a sangue frio.

A câmara de distribuição possuia mais duas passagens, além daquela que lhe dava acesso. Uma delas conduzia a uma ampla série de armazéns e a outra a um vestíbulo quadrado situado junto ao santuário (6). O vestíbulo tinha o teto sustentado por uma única coluna e em todas as paredes o faraó era representado sendo recebido não só pelos altos sacerdotes e oficiais do país, como também pelas divindades egípcias que ali se reuniam para saudá-lo, supostamente no momento em que o rei adentrava o templo, através do santuário, vindo de sua tumba, ou seja, da pirâmide. Cerca de cem divindades ali estavam representadas, em posição ereta, portando um cetro em uma das mãos e o hieróglifo que significa vida na outra. Os oficiais eram aproximadamente 45 e estavam em atitude de respeitosa reverência diante do rei. Também faziam parte da cena açougueiros sacrificando gado nos preparativos de um banquete.

O santuário media aproximadamente 15 metros e 54 centímetros de comprimento por cinco metros e 18 centímetros de largura e sete metros e 30 centímetros de altura, sendo que o teto era pintado de azul e decorado com estrelas douradas. Nas paredes maiores os relevos mostravam o rei sentado diante de uma mesa repleta de alimentos. O ka do faraó aparece atrás dele. Diante de cada mesa — descreve I.E.S.Edwards — há uma procissão de cerca de cento e vinte e cinco portadores de oferendas formada por sacerdotes, oficiais provinciais, cortesãos e outros dignatários que, por terem sido incluídos nesses relevos, tinham a garantia de passar a vida no além-túmulo a serviço do rei. Entre as oferendas trazidas pelos portadores estavam patos, gansos, vinho, cerveja, frutas, pão e vegetais. Gado, antílopes, gazelas e cabras eram conduzidas por cordas atadas aos seus pescoços ou pernas dianteiras. Pombos e codornizes eram transportadas em gaiolas. Acima desses relevos havia um friso largo decorado com figuras representando provisões. Esse friso continuava na parede leste, onde uma cena de gado sendo abatido tomava o lugar ocupado nas paredes norte e sul pelos portadores de oferendas.

Em nenhum outro templo funerário — prossegue o mesmo autor — foi possível reconstruir tanto da decoração original do santuário ou ver quão completamente ela estava devotada à satisfação das necessidades físicas do rei morto. Cada tipo de alimento era representado nos relevos, de forma que se os sacerdotes deixassem de prover suprimentos diários de provisões frescas no altar, ele não sofreria de fome ou sede; pela simples presença da fórmula mágica que acompanhava os relevos, as imagens assumiriam todas as propriedades de suas contrapartidas materiais. Como precaução adicional, vinho e provisões secas podiam ser guardados em um grupo de armazéns situados ao norte e conectados por uma passagem com o santuário.

A calçada (7) que liga o templo funerário ao templo do vale muda de direção duas vezes em seu trajeto, visando melhor aproveitamento das características do terreno. Os fragmentos de relevos encontrados foram suficientes para que os estudiosos deduzissem o conteúdo de algumas das cenas esculpidas: o rei, representado por uma esfinge ou por um grifo, pisoteando os inimigos tradicionais do Egito, a ele conduzidos como cativos pelos deuses; a deusa Seshat compilando o registro das vítimas e o butim conseguido; longas procissões de servos transportando produtos das propriedades reais para a tumba; procissões semelhantes, porém formadas por deuses e deusas que caminham em direção ao rei que se apresenta sentado em seu trono. Para evitar que os sacerdotes vindos da direção norte ou sul fossem obrigados a caminhar até o vale para alcançar o templo funerário através do corredor, havia portas nas paredes da porção superior deste último. A fim de evitar o acesso de pessoas não autorizadas aos recintos sagrados através de tais portas, havia junto a elas um abrigo (8) para um porteiro que controlava a entrada.

Na frente do templo do vale existe um largo terraço (9), acessível por meio de rampas, que ultrapassa em muito os limites das paredes do templo propriamente dito. Uma parede de pedra calcária, alta e espessa, rodeia o terraço pelos seus lados norte, sul e oeste. Escadas (10) estreitas construídas na alvenaria das extremidades da parede levam a um parapeito que se estende por toda a extensão dela. Ao centro de sua face oeste a parede é interrompida por uma porta rodeada por uma moldura de granito, na qual os nomes e títulos do faraó estão esculpidos em grandes hieróglifos. Além da porta uma passagem na parede leva a uma sala (11) alongada com oito pilares retangulares. Entre os escombros foram encontrados fragmentos de baixos-relevos pintados que ornaram um dia as paredes do recinto. As cenas mostram o rei matando seus inimigos, caçando pássaros nos pântanos e acompanhado pelos deuses. O restante da construção é formada por armazéns e duas câmaras subsidiárias.

Do lado de fora do muro que cercava a pirâmide principal de Pepi II estavam localizadas três outras pequenas pirâmides (12) (13) (14) pertencentes às rainhas Wedjebten, Iput II e Neit. Cada uma delas possuia suas próprias construções complementares, reproduzindo, em miniatura, os elementos principais do templo funerário do faraó. Nesse sentido, a mais completa é a da rainha Neit. Sua pirâmide alcançava cerca de 21 metros e 30 centímetros de altura, a base quadrada media 27 metros e 50 centímetros de lado e em suas características essenciais era uma réplica em escala reduzida da pirâmide do rei. Frente à sua entrada havia uma pequena capela para oferendas (15), cujas paredes internas estavam parcialmente adornadas com relevos mostrando a rainha recebendo provisões. Uma falsa-porta formava a parede sul da capela e junto a ela havia um altar para as oferendas. Essa parede bloqueava a entrada do corredor da pirâmide. Dentro dele havia inicialmente uma porta levadiça de granito e, a seguir, suas paredes eram decoradas com os textos das pirâmides. Estes também estavam inscritos na câmara mortuária, exceto em sua extremidade oeste onde as paredes eram revestidas de alabastro e ornamentadas com uma falsa-porta e um painel desenhado. O sarcófago de granito foi encontrado sem tampa e vazio. Junto dele, enterrado no piso da câmara, havia um estojo canopo, fabricado de um único bloco de granito e que teria contido, um dia, quatro jarros contendo as vísceras da rainha. Na outra extremidade da câmara funerária, uma curta passagem levava diretamente ao serdab.

No canto sudeste do muro de pedra calcária que circundava a pirâmide de Neit existia uma entrada estreita que dava acesso a um vestíbulo (16). Desse passava-se a um pátio aberto (17) rodeado em três de seus lados por colunas quadradas. Tanto o vestíbulo quanto o pátio estavam decorados com relevos que mostravam a rainha apresentando oferendas a várias deusas ou sendo reverenciada por seus familiares e servos. Um corredor partia do canto noroeste do pátio e, passando por um conjunto de cinco armazéns (18), levava à parte mais interna do templo formada por uma câmara longa, um pequeno pátio com três nichos para estátuas e o santuário (19). Ao lado deles existia um serdab.

Um fato que surpreendeu os arqueólogos foi a existência de pirâmides subsidiárias nos complexos das três rainhas, situadas junto ao canto sudeste da pirâmide principal. E surpreendeu porque essas pirâmides subsidiárias destinavam-se a conter as vísceras daquele que ocupava o monumento principal, ou então o corpo do seu cônjuge, e tal não acontece nesse caso. Na pirâmide de Neit um dos compartimentos tinha o chão coalhado de fragmentos de vasos de barro e havia ainda três vasos de alabastro, um dos quais trazia inscrito o nome da rainha. Deduziram os estudiosos que, nesse caso, provavelmente se acreditasse que a pirâmide subsidiária teria algum efeito sobre o conteúdo de tais recipientes, pois, caso contrário, eles poderiam perfeitamente ter sido guardados nos armazéns do templo.
 

(A Pirâmide de Ibi)
 

Ibi é um faraó pouco conhecido que reinou no decorrer da VIII dinastia. Sua pirâmide foi construída em Saqqara, mas ficou inacabada. Foi tão danificada que tornou-se impossível determinar o seu tamanho exato, embora se saiba que não deve ter sido maior que a pirâmide da rainha Neit. Os textos das pirâmides também foram encontrados em seu interior. Seu templo funerário era de tijolos e provavelmente não dispunha de templo do vale e calçada.
 

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