G E N E R A L I D A D E S
O período áureo da construção das pirâmides estendeu-se entre a III e a VI dinastias (de 2630 a 2150 a.C.). Nessa época quase todos os faraós e muitas de suas rainhas foram enterrados em túmulos com a forma de pirâmides. Em dinastias posteriores tais monumentos também foram construídos, mas perderam muito de seu explendor arquitetônico e até de seu significado religioso. A maior parte das pirâmides dessa época áurea foi construída na orla do deserto a oeste do Nilo, nas proximidades de Mênfis, entre a localidade de Meidum ao sul e a de Abu Rawash ao norte.
Em egípcio esse tipo de túmulo era chamado de mer, palavra que se supõe não ter tido qualquer significado descritivo. A palavra pirâmide, por sua vez, era grafada pi-mar. Existe ainda um termo geométrico — per-em-us — usado em um tratado matemático egípcio para indicar a altura de uma pirâmide. Foram os gregos, entretanto, que chamaram tais monumentos de pyramis (plural pyramides), o que resultou na palavra pirâmide em português. Ao que tudo indica a palavra grega não deriva de nenhum vocábulo egípcio, mas trata-se apenas do nome que os gregos davam a uma espécie de doce feito com farinha de trigo. Acreditam os estudiosos que os antigos gregos associaram humoristicamente as pirâmides a essa guloseima, provavelmente porque quando vistos à distância os monumentos lhes pareciam enormes bolos.
Do ponto de vista construtivo, a pirâmide foi uma evolução do tipo de túmulo conhecido como mastaba. De fato, a mais antiga que se conhece nada mais é do que a superposição de várias mastabas de dimensões progressivamente menores. Erguidas com rigor geométrico, as pirâmides estavam sempre perfeitamente orientadas em conformidade com os pontos cardeais e, sem dúvida, edificá-las exigiu elevados conhecimentos matemáticos e astronômicos. As três maiores, as de Gizé, foram orientadas com tanta precisão que se pode ver a estrela polar de qualquer ponto da estreita entrada. Atualmente as pirâmides só nos transmitem um pálido reflexo do que foram, pois nos mostram apenas a sua estrutura interna formada por imensos blocos de pedra, talhados e sobrepostos em degraus. Originalmente, porém, tais blocos estavam cobertos por um revestimento uniforme de pedra calcária e, assim, cada face formava uma superfície plana e polida. Na pirâmide de Kéfren ainda hoje chama logo a atenção a permanência em seu topo de boa parte desse revestimento de pedras calcárias. De modo geral elas comportavam em seu interior uma câmara mortuária contendo um sarcófago de pedra dura. Ao redor delas estendia-se uma ampla superfície coberta de lajes e delimitada por um muro.
Elas não eram, entretanto, construções isoladas, mas sim faziam parte de um conjunto de edificações que as acompanhavam, principalmente templos e capelas, além de túmulos de familiares e dignatários do faraó. Na maioria dos casos o complexo piramidal era formado por uma pirâmide principal, uma ou mais pirâmides secundárias, um templo situado junto ao vale do Nilo, na orla da área cultivável, e outro localizado junto à pirâmide e, ainda, uma calçada, também chamada de avenida, que unia os dois templos, separados entre si, às vezes, por distâncias superiores a um quilômetro. Nas proximidades de todo esse conjunto e ocupando grandes extensões, as mastabas dos membros da família reinante e dos cortesãos, simétricamente dispostas, formavam grandes cemitérios.
É comum encontrar-se ao lado das principais pirâmides, uma ou mais pirâmides menores chamadas subsidiárias ou secundárias. Supõem os arqueólogos que algumas se destinavam ao sepultamento das raínhas. Outras, entretanto, provavelmente não teriam tal finalidade, mas sim visavam sepultar as vísceras dos faraós, as quais eram retiradas dos corpos durante o processo de mumificação e guardadas nos vasos canopos.
Para os egípcios a construção de suntuosos templos funerários e túmulos enormes tinha por objetivo a glorificação das divindades e do próprio faraó que, ao morrer, também se tornava um deus. Nos templos erguidos junto às pirâmides, geralmente contíguos à face leste do monumento e a elas unidos através de uma galeria como essa do conjunto funerário de Kéfren que se vê ao lado, eram celebrados os cultos fúnebres em homenagem ao rei morto. Divididos em duas partes, os templos possuíam um setor público e outro privado. O primeiro recebia cortejos e fiéis que vinham de todo o país trazendo suas oferendas. No segundo setor apenas o clero e os membros da família real podiam penetrar. Durante todo o Império Antigo esses templos, embora arquitetonicamente diferentes uns dos outros, sempre apresentavam os mesmos componentes: um vestíbulo de entrada, um pátio aberto, cinco nichos para estátuas, armazéns e um santuário. Baseados nos fragmentos de estatuária encontrados, os arqueólogos calcularam que quase 500 estátuas adornavam origi-nariamente os complexos das três grandes pirâmides em Gizé.
Os santuários, território exclusivo dos sacerdotes, geralmente apresentavam uma falsa-porta em sua parede oeste com um altar baixo sob ela. As oferendas eram diariamente postas sobre o altar pelos sacerdotes. Entendia-se que o que tinha valor para o morto era apenas o espírito da substância oferecida e não a sua matéria propriamente dita e, portanto, ninguém esperava que os alimentos fossem consumidos ou desaparecessem, sendo natural que ficassem intocados. Podiam, posteriormente, ser recolhidos e partilhados no seio da comunidade sacerdotal que deles fazia uso.
As calçadas eram caminhos pavimentados e ladeados por muros altos e espessos, de tijolos ou pedras, às vezes cobertos com lajes de pedra, que ligavam o templo do vale ao templo situado junto à pirâmide principal. Em alguns casos as paredes internas desses corredores estavam decoradas com cenas esculpidas em baixo relevo e podia haver, também, estátuas do faraó postadas a intervalos regulares em nichos existentes nestas mesmas paredes.
Os templos situados junto ao Nilo — os templos do vale — destinavam-se a receber as procissões fluviais e, para isso, geralmente dispunham de ancoradouros para a atracação de barcos e ligavam-se ao rio através de um canal. Isso permitia que a procissão funeral atingisse o complexo piramidal sem a necessidade de uma longa jornada por via terrestre. No interior dos templos, capelas de calcário abrigavam santuários.
Após o sepultamento do faraó sua pirâmide era lacrada para sempre. Ao comum dos mortais era proibido entrar no recinto que circundava o monumento, bem como na parte mais íntima do templo funerário. Só os sacerdotes responsáveis pelos ritos estavam autorizados a ali penetrar.