COMO FORAM CONSTRUÍDAS

 

(Hipótese Clássica - 2)

 

Uma vez preparado o local e transportadas as pedras para junto dele, restava o trabalho da construção propriamente dita. E as tarefas não eram simples: havia que elevar os blocos a alturas consideráveis e assentá-los de maneira a criar um interior coeso e uma parte esterna de forma regular. Sem levarmos em consideração as câmaras e corredores internos das pirâmides, vejamos, a seguir, de que forma os monumentos estavam estruturados.
Tomemos como exemplo a pirâmide de Meidum, construída no decorrer da III dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.). Seu cerne é formado por várias camadas de alvenaria, de tamanhos sucessivamente menores, que se sobrepõem criando uma estrutura escalonada. A pirâmide de degraus assim resultante foi posteriormente convertida em pirâmide verdadeira, através do preenchimento dos degraus com pedras pequenas que encheram os vãos. Finalmente aplicou-se um revestimento externo de pedra calcária de Tura. Estudos arqueológicos demonstraram que o mesmo método continuou a ser empregado até períodos bem posteriores do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.).

Outro exemplo é o da pirâmide de Sahure em Abusir. Ela é formada por camadas verticais com cerne de alvenaria (1) revestidas de pedra calcária (2), blocos de pedra para entulhamento (3) e, por fim, o usual revestimento exterior e polido de pedra calcária de Tura (4). Não sabemos ao certo se as três pirâmides principais do Egito foram edificadas da mesma maneira, porque para sabê-lo seria necessário desmontar partes substanciais dos monumentos. Entretanto, as demais pirâmides subsidiárias situadas em Gizé foram erguidas dessa forma e os estudiosos não vêem razão para que os três colossais monumentos tenham sido construídos de forma diferente. Externamente, todas as pirâmides edificadas após a pirâmide torta de Dahshur eram semelhantes, com exceção do tamanho e de alguns pequenos detalhes. O ângulo normal de inclinação era de cerca de 52°, sendo que a pirâmide vermelha de Dahshur é a única que foge à regra com sua inclinação de 43° 36'.

É certo — afirma James Putnam — que as várias camadas de pedra eram assentadas do centro para as bordas e também é evidente que as pedras de revestimento eram colocadas no sentido do topo para a base. Não sabemos como os blocos eram elevados do nível do solo para a sua posição final. É provável que sólidas rampas tenham sido erguidas ao redor da área da construção. Os pesados blocos podem ter sido arrastados ao longo das rampas numa espécie de trenó até a plataforma de trabalho. Vestígios de rampas foram descobertos junto à pirâmide de Meidum. Eles também podem ter usado uma espécie de andaime para revestir o monumento com a pedra calcária.

Já I.E.S.Edwards escreve: Na ausência da roldana — um artefato que não parece ter sido conhecido no Egito antes dos tempos romanos — apenas um método de elevar grandes pesos estava disponível para os antigos egípcios: o uso de rampas compostas de tijolo e entulho, as quais se erguiam a partir do nível do solo até qualquer altura que se desejasse. Se, por exemplo, uma pequena parede tivesse que ser construída, as pedras de cada camada após a primeira seriam trazidas ao nível desejado por meio de uma rampa erguida contra a parede ao longo de todo o seu comprimento e que se projetava para fora em ângulo reto com a linha da parede. Com o acréscimo de cada carreira sucessiva de alvenaria, a rampa podia ser elevada e também estendida, de molde a que o gradiente se mantivesse inalterado. O gradiente da rampa provavelmente dependia do peso do material a ser transportado. Finalmente, quando a parede tivesse sido erguida até a sua altura total, a rampa podia ser desmontada e as faces externas das pedras, que não haviam sido polidas previamente, podiam ser revestidas camada por camada, de cima para baixo, à medida em que o nível da rampa era reduzido.

Escombros de rampas do tipo descrito acima foram encontrados junto da pirâmide de Meidum, como já dito, e também junto do inacabado templo mortuário de Miquerinos e da pirâmide de Amenemhet I em el-Lisht. Um documento da XIX dinastia apresenta as seguintes medidas aproximadas para uma rampa hipotética: comprimento, 379 metros; largura, 29 metros; altura máxima, 32 metros. Os arqueólogos supõem que no caso das pirâmides de degraus os vários níveis serviriam como plataformas, sobre as quais quatro rampas poderiam ser construídas lado a lado, uma contra cada face do monumento. Estruturas auxiliares, à guisa de andaimes, feitas de tijolos, colocadas em locais não cobertos pelas rampas, permitiriam manobrar mais facilmente as pedras usadas no revestimento. Progressivamente reduzindo a altura de tais estruturas, seria possível trabalhar no revestimento da pirâmide ao mesmo tempo em que níveis mais elevados ainda estivessem sendo erguidos.

Já no que diz respeito às pirâmides verdadeiras, acreditam os estudiosos que existiria uma única rampa que cobria totalmente uma das faces do monumento. À medida em que a pirâmide subia, a rampa ia sendo aumentada em altura e comprimento e seu topo ia sendo estreitado para corresponder à diminuição da largura do monumento. Nas outras três faces da pirâmide haveria estruturas auxiliares de largura suficiente no topo para permitir a passagem do material e dos trabalhadores. Em el-Lisht, escavadores norte-americanos encontraram vigas de madeira que poderiam ter sido colocadas no topo da rampa e das estruturas auxiliares, de modo a formar um caminho estável para a passagem dos trenós que transportavam os blocos de pedra.

Pode-se imaginar que uma pirâmide que já estivesse erguida até metade de sua altura total estaria completamente rodeada pela rampa e demais estruturas auxiliares e que do solo nada se veria das pedras que já tivessem sido assentadas. A parte superior do monumento nada mais seria do que uma plataforma quadrada, pronta para receber uma nova camada de alvenaria. As primeiras pedras a serem colocadas seriam as centrais e os homens trabalhavam simultaneamente nas quatro direções, cuidando para manter sempre a estrututra quadrada. As pedras, polidas apenas na sua face inferior, eram encostadas umas às outras e nem sempre se ajustavam perfeitamente nas laterais, mas os vãos causados pelas irregularidades geralmente não eram preenchidos. O trabalho prosseguia até que restasse a descoberto apenas uma pequena margem da parte externa da plataforma original. Sobre ela era então aplicada uma camada de pedra calcária local, tomando-se maior atenção no que diz respeito ao preenchimento das junções entre as pedras.

O último passo consistia em aplicar o revestimento final com a pedra calcária de qualidade superior extraída em Tura. Tratava-se de uma operação bastante delicada, pois dela dependia todo o aspecto externo do monumento e a manutenção da sua forma piramidal. As junções, não apenas das pedras do revestimento de uma mesma fileira entre si, mas também destas com as pedras da camada mais externa do miolo da pirâmide, mais do que nunca precisavam ser perfeitas. Os arqueólogos acreditam que esse trabalho era executado por habilidosos pedreiros no nível do solo. Quando as pedras subiam para serem colocadas em seus lugares, os ajustes necessários já haviam sido feitos. Mesmo assim, o assentamento das pedras do revestimento não era nada fácil, principalmente se fosse um dos blocos de grandes dimensões pesando, talvez, mais de dez toneladas. Cada pedra era transportada em trenó e posicionada diretamente em frente ao ponto no qual deveria ser definitivamente assentada. Camadas finas de argamassa eram aplicadas sobre ela, formando uma espécie de lubrificante que facilitava seu deslocamento. Com emprego de alavancas, o bloco era retirado do trenó e colocado sobre o topo da pedra correspondente da camada inferior de revestimento e, a seguir, ajustado na sua posição final.

A construção ia crescendo da forma descrita, elevando-se concomitantemente a rampa e as estruturas auxiliares. Por fim, uma pedra triangular, geralmente de granito, era assentada no ápice da pirâmide. Para fixá-la com firmeza, esculpia-se no centro de sua base uma protuberância em forma de disco que se ajustava num encaixe preparado para recebê-la, localizado no centro da última camada de alvenaria do monumento. O mesmo método empregado para assentar as demais pedras deve ter sido usado para ajustar esta última. Embora exista um texto que se refira a uma de tais pedras como revestida de ouro, a mais valiosa encontrada até hoje é feita de granito cinza e pertencia à pirâmide de Amenemhet III, localizada em Dahshur. Suas quatro faces estão esculpidas com invocações dirigidas ao deus-Sol e a três outras divindades.

Terminada a construção do monumento, iniciava-se o polimento de suas quatro faces, iniciando-se pela pedra triangular do topo. À medida em que o trabalho prosseguia, a rampa e as estruturas auxiliares iam sendo desmontadas e a pirâmide começava a surgir em todo o seu esplendor. Os arqueólogos acreditam que nessa fase a rampa e as demais estruturas iam sendo desmontadas não de forma gradual, mas em etapas de vários metros de altura. Eram, então, substituídas por andaimes de madeira, artefatos que sabemos que os egípcios conheciam, os quais permitiriam que uma maior quantidade de homens pudesse trabalhar a diferentes níveis ao mesmo tempo. Finalmente, os construtores dedicavam-se à edificação do templo mortuário, do templo do vale e da calçada que os unia, sendo que alguns deles talvez já tivessem tido seus alicerces assentados antes que a construção da pirâmide fosse iniciada.

Já as pirâmides da XII dinastia (1991 a 1783 a.C.) e da XIII (c. 1783 a 1640 a.C.) foram construídas com uma técnica diferente. O motivo para a alteração do método foi a necessidade de economia, uma vez que o novo processo se adequava bem às estruturas relativamente modestas da época, erguidas com materiais inferiores. O autor John Baines nos explica: Do centro da pirâmide partiam sólidas paredes de pedra, enquanto outras, mais pequenas, se cruzavam para formar uma série de câmaras internas cheias de blocos de pedra, de entulho ou de tijolos. A estrutura era então completamente coberta do habitual revestimento exterior. Embora fosse bastante eficaz a curto prazo, este método não se podia comparar aos mais antigos e todas as pirâmides construídas desta maneira estão atualmente muito dilapidadas. A pirâmide de Sesóstris I é um exemplo de monumento construído segundo essa técnica.
 

COMO FORAM CONSTRUÍDAS - PARTE 3

 

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