NILO

O rio das pirâmides do Egito

 

Desafiando há milênios o maior deserto do mundo, mesmo sem contar com nenhum afluente importante, o rio Nilo propiciou, com suas cheias anuais, o florescimento do Egito dos faraós. O Antigo Egito se foi, mas os marcos que sobrevivem às margens do grande rio sustentam a economia do país. Um rio que trouxe fertilidade ao deserto, guarda a memória do tempo glorioso dos faraós. É o Nilo, que, com suas cheias anuais, viu florescer muita riqueza numa das regiões mais áridas do planeta.

 

Em um longínquo passado, cerca de cinco mil anos atrás, os súditos do faraó Zoser, fundador da III Dinastia do Reino Antigo, sofriam com a ausência, já por sete anos seguidos, das enchentes anuais do Rio Nilo. Só com o transbordamento das águas, inundando o solo e enriquecendo-o de nutrientes, é que poderiam iniciar as plantações que garantiriam seu sustento. A situação estava insuportável. Zoser, desesperado, convocou seu braço direito, o sábio Imhotep, criador das primeiras pirâmides, para saber onde ficavam as fontes primárias do Nilo. O faraó preten-dia viajar até lá para encontrar-se com os deuses do rio e suplicar-lhes compaixão para seu povo. Mas Imhotep respondeu que os livros sagrados já lhe haviam dado a solução. Khnum, o deus da primeira catarata, tinha causado tanta fome porque estava zangado por não terem cuidado do seu templo. Imhotep invocou Khnum com súplicas até que o deus cedeu, fazendo retornar as enchentes e terminar a fome crônica.


 

Essa história grafada em hieroglifos numa pedra de granito, foi encontrada por um escultor que vivia perto da primeira catarata do Nilo, já na era moderna. E retrata a importância que o Nilo tem para a região desde os tempos imemoriais dos primeiros faraós do antigo Egito. Suas águas não só permitiram o florescimento de uma das mais soberbas e pioneiras civilizações da história da humanidade, como também constituem um dos mais nobres exemplos da natureza, da sua capacidade infindável de promover o surpreendente e o inesgotável.

De que outra forma entender a existência desse rio, que é o terceiro maior do planeta, com cerca de 6.500 quilômetros de comprimento, ainda que atravesse a região mais árida do mundo, sem receber, pelo menos nessa região, a ajuda de qualquer afluente? Assim é o Nilo. Um solitário deus da fertilidade, transbordando generosidade e vida por uma terra desaventurada, inclementemente árida.

O Rio Nilo nasce no Lago Vitória, o segundo maior depósito de águas frescas do mundo, situado perto da linha do Equador, entre as fronteiras da Tanzânia, Quênia e Uganda. Na sua longa viagem em direção ao Mar Mediterrâneo, ao norte, ele é reforçado por outras fontes, entre as quais, duas principais. A primeira delas é o Nilo Azul, que se origina na Etiópia. Ao atravessar o Sudão, recebe o reforço do Nilo Branco e, depois de uma série de sete cataratas, atravessa a fronteira do Egito para seu destino final, o Mar Mediterrâneo. Há cerca de 5,5 milhões de anos, essa viagem era facilitada pelas condições climáticas e geográficas. A região em que está o Egito hoje, era, então, não um deserto, mas sim terras úmidas, sobre as quais o rio cavou seu leito até desembocar no Mar Mediterrâneo, seco então - o mar só passaria a existir há 800 mil anos. De lá para cá, tudo mudou. Surgir o deserto e o mar, e o Nilo teve que se adaptar a essas condições, como formar um largo delta, motivado pela pressão das águas mediterrâneas - e que hoje consiste em uma das regiões mais férteis do mundo.

Roberto Amado