criança aprendia primeiramente a ler e a escrever. Como o papiro era um material caro para ser desperdiçado, os estudantes recebiam inicialmente, para os seus exercícios, placas de calcário muito bem polidas nas quais estavam riscadas linhas ou quadrados. Em Tebas o material era ainda mais tosco: pedaços de pedra rudemente talhados. Esses eram os cadernos de exercícios e os cadernos do dia-a-dia das crianças egípcias. O treinamento consistia em traçar sinais isolados, hieróglifos ou sinais cursivos e, também, pequenos desenhos, copiados de várias fontes. Alguns trabalhos apresentavam datas. Como o material empregado era barato, o aluno podia estragá-lo à vontade e só depois de muito treino era promovido a estudante. A partir desse momento estava autorizado a copiar num bom papiro intacto, não apenas um trecho, mas uma obra completa.

cocorado, — descreve Pierre Montet — desdobra uma parte do rolo absolutamente novo, de largura igual à de uma página do modelo. Prepara a sua tinta encarnada e a sua tinta preta, escolheu na sua caixa os cálamos apropriados e começa a copiar um conto, uma compilação poética ou moral, ou modelos de letras. Os títulos e os começos dos capítulos eram escritos em tinta encarnada, o resto do texto em tinta negra. Mas o escriba era, ao mesmo tempo, um desenhador e um pintor. Empregava para as iluminuras tinta verde, azul, amarela ou branca.

educação não consistia unicamente no estudo da gramática e escrita, no conhecimento dos textos clássicos, das histórias divinas, de um pouco de desenho. Os funcionários egípcios têm ocupações extremamente variadas e passam, com uma espantosa facilidade, de um serviço para outro.

autor cita como exemplo uma das personalidades conhecidas, de nome Uni, que foi primeiramente polícia e juiz, depois foi procurar pedras muito longe, construiu barcos, cuidou dos canais, e, quando rebentou a guerra, desempenhou as funções de chefe do Estado-Maior. E Montet continua:

ra, pois, necessário que os estudantes fossem iniciados no conhecimento das leis e dos regulamentos, da História, da Geografia e das principais técnicas. Haveria concursos e diplomas? Estamos tentados a crer que sim, vendo as perguntas que o escriba Hori faz a um dos seus confrades que gostaria de apanhar em falta: que ração têm as tropas em campanha? Quantos tijolos são necessários para construir uma rampa de certas dimensões? Quantos homens são precisos para transportar um obelisco? Como erguer um colosso? De que modo se organiza uma expedição militar? E, finalmente, perguntas de todo o gênero sobre a geografia da Síria. Nestas perguntas podemos ver um programa completo de estudos.

vontade de trabalhar era naturalmente muito variável em todos estes futuros escribas. Os professores desolavam-se freqüentemente ao vê-los tão preguiçosos. O escriba Amenmosé não deixa de repetir:

screve com a tua mão, discute com os que são mais sábios do que tu... Só podemos ser fortes se nos exercitarmos todos os dias... Se te descuidares, nem que seja um só dia, serás castigado. Os jovens têm os ouvidos nas costas. Só prestam atenção a quem lhes bate. Deixa o teu coração escutar as minhas palavras. Tirarás proveito disso. Podem ensinar-se os macacos a dançar. Domesticam-se cavalos. Consegue-se prender o milhafre no ninho. Pode fazer-se o falcão voar. Não te esqueças que se progride pela discussão. Não te esqueças do que está escrito. Esforça-te por ouvir as minhas palavras e achá-las-ás úteis.

as talvez não fossem apenas a preguiça e a teimosia os únicos inimigos do estudo. Outro professor, talvez melhor informado, proclama:

izem-me que pões de parte a escrita, e que te entregas à dança. Andas de botequim em botequim. O cheiro da cerveja acompanha todos os teus passos.. És como uma capela privada do seu deus, como uma casa sem pão. Encontram-te a bater nas paredes. Os homens fogem diante de ti. Se tu pudesses saber que coisa abominável é o vinho! Se pudesses esquecer as taças! Mas tu desconheces a tua grandeza.

inha pior — conclui Montet. A facilidade de que o homem dispunha, no Egito, de ter concubinas em casa, de comprar ou alugar escravas, impedia, de certo modo, que as casas de prostituição se desenvolvessem. Contudo, existiam algumas onde os clientes além de serem induzidos a beber demasiado podiam encontrar dançarinas, cantoras e músicas profissionais, que eram, na generalidade, mesmo as cantoras de Amon, mulheres fáceis. Ali se iniciavam nos encantos da música estrangeira. Cantava-se declamava-se, com acompanhamento de adufe e da harpa. Inciavam-se também noutros prazeres até que se encontravam na rua num estado abjecto e, depois de baldados esforços para tornar firme o passo cambaleante, rolavam no lixo, ou viam-se a braços com uma má questão judicial.