amos começar falando da matemática. Os egípcios usavam a numeração decimal pelo menos desde os idos da primeira dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.). Entretanto, não conheciam o zero, mas às vezes, intuitivamente, o escriba o manejava deixando um espaço vazio para ele. Um traço indicava a unidade, um arco indicava a dezena e uma corda enrolada indicava a centena. Na foto ao lado, de um muro de uma construção de Tutmósis III (c. 1479 a 1425 a.C.) em Karnak, pode-se observar esse sistema de notação. Trabalhavam apenas com três operações aritméticas: a soma, a subtração e a divisão. Para multiplicar usavam o expediente de fazer adições sucessivas. Tinham dificuldade em lidar com as frações. As que tivessem numerador maior do que 1 eram divididas em parcelas com numerador unitário para serem usadas nos cálculos. Excetuava-se a fração 2/3, que eles sabiam utilizar tal como se apresentava. A diferença entre a progressão aritmética e a geométrica era perfeitamente entendida e calculavam com precisão as áreas dos triângulos, retângulos e hexágonos bem como o volume das pirâmides, do cilindro e até mesmo do hemisfério. Calcularam em 3,16 a razão entre a circunferência de um círculo e seu diâmetro, o que é um valor notavelmente exato para a época, mormente quando lembramos, por exemplo, que a Bíblìa apresenta o número 3 para o valor de PI.

s arqueólogos encontraram em um papiro — o papiro Rhind — um escrito que foi considerado a cartilha de calcular mais antiga do mundo, o assim chamado Livro de Calcular de Ahmes. Foi escrita por volta do século XVII a. C. pelo escriba Ahmes, mas é cópia de um papiro anterior, cuja origem remonta ao período entre 1849 e 1801 a.C. O professor Idel Becker nos explica que o papiro Rhind é o documento número um no catálogo da literatura matemática mundial. Trata-se de um vade-mécum. Não expõe regras gerais, mas casos particulares. Ao ensinar o cálculo de frações, Ahmes fornece uma grande tabela, possivelmente coligida às apalpadelas e por tentativas durante muitos séculos, com cujo auxílio se pode representar uma fração qualquer, como soma dessas frações fundamentais. Exemplos: 2/5=1/3+1/15; 2/9=1/6+1/18.

s inundações anuais do Nilo destruíam de tempos em tempos os marcos limítrofes das propriedades, originando contendas sobre os direitos à terra. Nesse cenário desenvolveu-se a classe profissional dos agrimensores, chamados de esticadores de corda, aos quais cabia restabelecer os antigos limites das áreas inundadas. Na prática eles já conheciam o teorema de Pitágoras. Eles sabiam — diz Idel Becker — que um triângulo com lados 3, 4 e 5 é retângulo. Faziam, pois, numa corda, 12 nós — a intervalos regulares. Amarravam as pontas e esticavam a corda, dobrando-a convenientemente em três dos nós. Obtinham, assim, um triângulo retângulo. Isto lhes permitia traçar perpendiculares e paralelas, necessárias às tarefas de agrimensura. Desta forma conseguiam restabelecer os antigos limites das terras dos diversos proprietários.

ão resta dúvida que a construção dos templos e das pirâmides exigiam conhecimentos precisos não só geométricos, mas também, matemáticos e astronômicos. Todas essas obras estavam orientados em rigorosa conformidade com os pontos cardeais.

ão sendo cientistas puros, os egípcios tinham pouco interesse pela natureza do universo físico em si mesmo. Apesar disso, fizeram mapas dos céus, identificaram as principais estrelas fixas e conseguiram algum sucesso na determinação exata das posições dos corpos celestes. A figura ao lado mostra motivos astronômicos pintados no teto do túmulo de Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.). Heliópolis era o centro de culto do Sol e como o ritual desse deus estava ligado intimamente com a medida do tempo e os movimentos dos corpos celestes, era natural que a astronomia fosse estudada principalmente naquela cidade. Idel Becker explica que eles agrupavam as estrelas em constelações identificadas com as divindades; e nessa forma eram elas representadas nos tetos e nas tampas dos ataúdes. Representava-se o universo como uma caixa retangular, no meio de cuja base ficava o Egito. O firmamento era sustentado por quatro píncaros de montanhas; as estrelas pendiam do céu por meio de cabos. Em torno da terra corria um rio onde viajava um barco que conduzia o sol.


fama dos médicos egípcios atravessou fronteiras. O rei persa Ciro chegou a pedir um oculista ao faraó. O mais antigo dos médicos conhecidos é Imhotep, da III Dinastia (c. 2649 a 2575 a.C.), representado na ilustração ao lado em uma estatueta de bronze, considerado após sua morte o deus da medicina. Muito contribuiu para o estudo da medicina a prática da mumificação, a qual permitiu o acúmulo de conhecimentos empíricos de anatomia. Os médicos egípcios já eram especialistas: havia oculistas, ginecologistas, dentistas, cirurgiões, estudiosos das doenças do estômago, etc. A importância de um órgão como o coração já era intuida por eles e tiveram uma vaga idéia do significado do pulmão. O tratamento de fraturas era feito com certo grau de habilidade e sabiam realizar operações simples, com alto nível técnico e científico. O papiro de Edwin Smith, originário da I dinastia (c. 2920 a 2770 a.C.), contém um tratado de cirurgia, especialmente de fraturas, que é notável por sua aproximação empírica.

ntre os egípcios a circuncisão não era realizada imediatamente após o nascimento, pois tinha sobretudo relação com os ritos de iniciação na época da puberdade. Ela é mencionada várias vezes nos textos e são conhecidas duas representações dessa pequena cirugia. A que está ilustrada ao lado encontra-se em Saqqara no túmulo do médico Ankh-ma-Hor, da VI dinastia (c. 2323 a 2150 a.C.).


través dos papiros que chegaram até nós, também percebemos uma gama muito grande de conhecimentos médicos entremeados com fórmulas mágicas. Produziam remédios, por exemplo, que, segundo eles, curavam em certos meses, permanecendo ineficazes em outros. A aplicação de tais medicamentos era acompanhada de encantamentos, nunca desprezando os mais variados amuletos e talismãs. Apesar disso, apontavam como causa das moléstias os fatores naturais e observaram as propriedades curativas de numerosas drogas, tendo compilado a primeira farmacopéia que se conhece. Baseados na observação e na experiência, os egípcios iam tratando as doenças do corpo cada vez mais de forma racional. Os diagnósticos e tratamentos iam se tornando cada vez mais corretos. As doenças mentais, entretanto, permaneceram sendo tratadas por muito tempo por exorcistas que utilizavam passes e amuletos na tentativa de expulsar os maus espíritos. A partir do Império Médio os conhecimentos médicos adquiridos até então transformaram-se em dogmas. Houve um apego exagerado aos ensinamentos tradicionais e a medicina parou no tempo.

s egípcios — afirma o historiador Edward Burns — pouco fizeram em outros campos científicos. Apesar de terem realizado façanhas de engenharia que rivalizam com a perícia da mecânica moderna, seus conhecimentos de física eram os mais rudimentares possíveis. Conheciam o princípio do plano inclinado, mas ignoravam a roldana e, provavelmente, também, o rolo. Embora fosse pequeno o seu conhecimento de química, ao menos deram o nome a essa ciência. Deve também ser consignado, em seu favor, um considerável progresso na metalurgia, a invenção do relógio de sol e do de água, o fabrico do papel e do vidro. Com todas as suas deficiências como cientistas puros, igualaram realmente os romanos nas realizações práticas e foram muito além dos hebreus e dos persas.