s preparativos para a realização de um banquete envolviam toda a criadagem e movimentava toda a casa. A residência era lavada e caiada e os seus jardins varridos com esmero. Um boi era abatido e sua carne devidamente preparada. Gansos eram assados no espeto. Revisava-se o estoque de cerveja, vinhos e licores. Frutos eram empilhados na forma de pirâmides em pratos e tabuleiros de vime.

o dia da festa, caso as visitas a serem recebidas fossem muito ilustres, os donos da casa as recebiam em pé perto da entrada e as conduziam através do jardim até o interior da residência. Em outros casos, os anfitriões permaneciam na sala de recepção e os convidados eram recebidos pelos criados e pelas crianças. Terminados os abraços e feitos os cumprimentos de praxe, que eram verbalmente longos e rebuscados, cada pessoa tomava o seu lugar no salão.

s donos da casa — nos conta o egiptólogo Pierre Montet — sentavam-se em cadeiras de espaldar alto, cujas partes de madeira eram incrustadas de ouro e prata, turquesa, cornalina e lápis-lazúli. À disposição de alguns convidados colocam-se também assentos muito luxuosos. Os outros contentavam-se com tamboretes em X ou mesmo com tamboretes de pés verticais. Em casa das pessoas humildes, as pessoas sentavam-se simplesmente sobre esteiras. Os assentos preferidos pelas raparigas eram os coxins de couro, muito bem trabalhados. Os homens colocavam-se de um lado, as mulheres de outro. O moralista Ptah-hotep, que sabia o que dizia, recomenda aos jovens, e mesmo aos homens maduros, convidados para uma casa amiga, que não olhem demasiado para o lado das mulheres. Isto não era uma regra absoluta. Quando se reuniam os homens e as mulheres, os serviços não eram separados. O convidado podia, se o desejava, ficar junto de sua esposa.

s criadas, sempre novas e bonitas, trajavam vestidos transparentes ou usavam apenas um gorjal e um cinto sobre o corpo. Circulavam entre os convidados distribuindo flores de lótus para todos os presentes e com uma pomada perfumada que transportavam num grande prato, confeccionavam os cones brancos que todos usavam na cabeça. Esse era um acessório indispensável numa recepção: com o calor do corpo e do ambiente os cones se fundiam lentamente, inundando o salão de fragrância e mascarando o cheiro da comida que se espalhava pelo ar.

nstrumentos musicais como a flauta, a gaita e a harpa, que surgiram na época das pirâmides, também não faltavam nas festas, formando duos ou trios e se associando ao canto e às palmas para alegrar a reunião, pois os egípcios sempre gostaram de música. Dançarinos e até acrobatas completavam o espetáculo.

esmo depois de todos já estarem saciados, a música, os cânticos e as danças prolongavam a reunião. Os cantores improvisavam versos que celebravam a generosidade dos donos da casa ou a bondade dos deuses. Enfatizavam o fato da vida ser curta e que, portanto, aquele dia feliz devia ser bem aproveitado, antes que a tristeza do reino dos mortos se abatesse sobre eles. Sobre esse assunto o historiador Heródoto relata um costume vigente na época da decadência da civilização egípcia: Quando os egípcios abastados realizam festins em suas casas, têm o hábito de fazer levar à sala, depois do repasto, um esquife contendo uma figura de madeira trabalhada com perfeição e muito bem pintada, representando um morto. Essa figura, que mede de um a dois côvados de comprimento, é exibida a cada um dos convivas, acompanhada desta advertência: "Lança os olhos sobre este homem. Tu te parecerás com ele depois da morte. Bebe, pois, agora, e diverte-te."


e fato figurinhas de madeira, esculpidas, pintadas e colocadas em caixões de modo a imitarem exatamente um morto mumificado, foram realmente encontradas por arqueólogos numa residência particular da cidade de Tanis.
 


á que as bebidas circulavam livremente, com o pretexto de celebrarem um dia feliz muitos dos convivas se embriagavam. Não é raro — esclarece Pierre Montet — encontrar nas cenas de um banquete um conviva a quem o excesso de comida e bebida incomodara a cabeça e o coração. Um jato pouco gracioso escapa-se-lhe da boca. Os seus vizinhos, a quem o incidente não espanta muito, amparam a cabeça do doente ou da doente. Se fosse preciso estendiam-no num leito. Os vestígios do incidente depressa seriam limpos e a festa continuava.