A PIRÂMIDE DE KÉFREN

(PARTE 2)

 

Junto à esfinge situa-se o templo do vale do complexo da pirâmide de Kéfren. Mede 44 metros e 80 centímetros de cada lado e sua altura é de 13 metros. As paredes, de pedra calcária rústica, são extremamente grossas e foram um dia revestidas, tanto interna quanto externamente, de granito vermelho polido. Alguns desses blocos pesam de 50 a 80 toneladas cada e estão montados com juntas do tipo macho e fêmea. Outros chegam a pesar até 500 toneladas. Na parede leste há duas entradas de acesso ao templo. Em torno delas estavam esculpidas faixas de inscrições hieroglíficas apresentando o nome e títulos do faraó, mas de tais dizeres poucas palavras restaram. Nenhuma outra inscrição ou figura existe em qualquer parte do templo.


A partir da entrada, pequenas passagens (1) levam a vestíbulos (2) também pequenos, mas de considerável altura. Estes se comunicam com uma comprida antecâmara (3), em cujo solo arqueólogos encontraram uma cova contendo uma estátua de Kéfren em diorito, considerada uma das mais belas esculturas já descobertas do Império Antigo (2575 a 2134 a.C). Com 168 centímetros de altura, ela é assim descrita por Giorgio Lise: Segundo uma das posições canônicas, o faraó aparece sentado, com as mãos sobre as coxas e com a cabeça protegida pelas asas abertas do deus-falcão Hórus. Os juncos entrelaçados nos lados do trono representam a união do Alto e do Baixo Egito, enquanto as pernas em forma de leão são o símbolo do poder do rei. A principal característica do templo é um recinto em forma de tê, com colunas de granito, pavimentado de alabastro e ao qual se chega através de uma passagem que sai da antecâmara. Nele estiveram um dia postadas, ao longo de suas paredes, 23 estátuas reais feitas de diorito, xisto e alabastro e, provavelmente, aquela única que foi encontrada intacta, abrigada em sua cova, fazia parte do conjunto.

Para iluminar o interior, — escreve o professor Everard M. Upjohn — o arquiteto inventou a clarabóia, elemento arquitetônico que atingiria o apogeu, milhares de anos mais tarde, nas igrejas cristãs. A cobertura da parte central era mais alta do que a das naves laterais, permitindo assim a colocação duma fila de pequenas janelas. Por sua vez, o egiptólogo I.E.S.Edwards nos conta: A luz adentrava o recinto através de fendas oblíquas cortadas parcialmente no topo das paredes e parcialmente na parte inferior do teto plano de granito; os raios não brilhavam diretamente sobre as estátuas, mas eram refletidos pelo piso de alabastro e pelas colunas quadradas e massiças de granito vermelho que sustentavam o teto. Tal claridade pode parecer inadequada para iluminar esculturas que, a julgar por aquela que permaneceu intacta, eram obras-primas da arte. As esculturas egípcias, entretanto, não se destinavam a ser expostas, mas a prover o espírito com um imperecível substituto para o corpo humano; não se pensava que a luz difusa ou mesmo a escuridão total pudesse prejudicar a eficácia do substituto — um fato que é demonstrado pela prática regular de enclausurar estátuas em serdabs.

Os estudiosos não acreditam que Kéfren tenha mandado colocar 23 estátuas suas nesse templo para garantir maior número de moradas para o seu ka. Para que a existência divina do faraó fosse preservada no além-túmulo, diziam as crenças, era necessário que cada um dos 26 membros de que se compõe o corpo fossem separada e cerimonialmente deificados e identificados com o deus específico que era associado ao referido membro. Supõe-se, então, que as estátuas se destinavam à deificação individualizada de cada um dos membros de Kéfren. Como três divindades estavam associadas cada uma delas a dois membros, bastavam 23 estátuas, repetindo-se a cerimônia duas vezes em três delas.

Os arqueólogos também supõem que durante as cerimônias que se realizavam no templo no decorrer do sepultamento, o ataúde com o corpo embalsamado do rei era colocado junto às estátuas. As quatro vísceras, em seus respectivos vasos canopos, ficavam cada uma delas em uma longa cela de um grupo de seis delas dispostas em dois andares (4), atingidas por uma passagem que saia do lado sul do recinto com colunas. As celas restantes destinavam-se a armazenar duas coroas reais. Uma passagem que partia do lado norte do recinto com colunas atingia a calçada que se iniciava no exterior do templo (5). A meio caminho da passagem existia um corredor estreito que levava a uma pequena câmara (6) revestida de alabastro, a qual talvez servisse para o armazenamento de oferendas utilizadas durante as cerimônias funerárias.

O templo do vale ligava-se ao templo mortuário através de uma calçada (5) que foi construída obliquamente para evitar uma profunda depressão do terreno. Com mais de 400 metros de extensão e cerca de quatro metros e 57 centímetros de largura, tinha muros e era coberta por um teto plano de lajes de pedra. Quase nada restou dela a não ser pouca coisa de seu alicerce rochoso e algumas pedras de suas paredes e calçamento. A luz — e naturalmente a chuva — penetravam através de rasgos horizontais feitos na parte central das lajes do teto. Para evitar que a água inundasse o corredor e atingisse o templo do vale, foi aberto um canal no pavimento da parte inferior da calçada, o qual conduzia a água para fora através de uma passagem nas paredes laterais.

O templo mortuário era uma construção baixa e media aproximadamente 112 metros de comprimento por 48 metros de largura. Suas paredes de pedra eram parcialmente revestidas de granito vermelho por dentro, sendo que por fora havia revestimento do mesmo material apenas na primeira camada inferior, enquanto que o restante era coberto de pedra calcária proveniente de Tura. A calçada (5) desembocava em um corredor. À esquerda deste, duas câmaras (7) construídas em granito destinavam-se a receber as coroas reais; na sua extrema direita, quatro câmaras (8) revestidas de alabastro armazenavam as vísceras do faraó no decorrer das cerimônias fúnebres. Ao centro do corredor havia um pequeno vestíbulo (9) que se ligava por estreita passagem com a antesala de entrada formada por dois recintos, um transversal e outro longitudinal, também unidos por pequena passagem. Colunas retangulares e monolíticas de granito vermelho, semelhantes às que existiam no templo do vale, suportavam os telhados do vestíbulo e das duas partes da antesala. Nas extremidades da seção transversal da antesala, existiam duas câmaras estreitas e compridas (10) cujas paredes do fundo eram formadas por um único bloco de granito. A finalidade desses recintos ainda causa polêmica entre os estudiosos.

Após a antesala abria-se um claustro (11), pavimentado de alabastro. Pilares largos feitos com blocos de granito vermelho suportavam o teto curvo da galeria. Uma dúzia de estátuas de Kéfren sentado, cada uma delas com três metros e 65 centímetros de altura, acomodam-se e projetavam-se para fora de recessos existentes na parte frontal de tais pilares. Acima de cada estátua um par de abutres de asas abertas representavam a deusa protetora Nekhbet. Outras inscrições hieroglíficas com o nome e títulos do rei e relevos em pedra calcária nas paredes internas da arcaria completavam a decoração do recinto. Depois do claustro existiam cinco nichos profundos (12), que talvez tenham contido estátuas do rei. Estimativas, feitas com base nos fragmentos de esculturas descobertos no complexo piramidal de Kéfren, levam a crer que lá existiriam entre 100 e 200 estátuas separadas.

Além do pátio apenas os sacerdotes estavam autorizados a penetrar. Através de um corredor localizado à esquerda da parte posterior do claustro, podiam atingir o santuário do templo (13). Nele existia uma falsa-porta em sua parede oeste com um altar baixo sob ela. As oferendas eram diariamente postas sobre o altar pelos sacerdotes. Entre os cinco nichos das estátuas e o santuário havia cinco armazéns (14) nos quais ficavam guardados os jarros com vinho e reservas de mantimentos dos quais o morto lançaria mão caso os sacerdotes negligenciassem sua tarefa diária de ofertar alimentos frescos ao falecido.

A partir de uma longa rampa (15), localizada à direita da parte posterior do claustro, era possível atravesar o muro que rodeava a pirâmide, atingir o exterior do templo e sair frente ao colossal monumento. No lado de fora do templo, cinco covas para botes (16) foram escavadas na rocha junto às paredes norte e sul e duas delas ainda preservam tetos feitos com lajes de pedra calcária. Nenhum dos barcos de madeira supostamente ali depositados foi encontrado.

 

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