O Delta do Nilo

Ao chegar ao Cairo, o Nilo enfrenta um choque de modernidade - a capital do Egito é um aglomerado caótico de quase sete milhões de habitantes, com uma infra-estrutura subumana, típica de terceiro mundo - ou quarto. Lá, as nobres águas do rio poluem-se pelo lixo industrial, esgoto e falta de consciência ambiental de seus habitantes. Mas é lá no Cairo que o Nilo executa uma de suas mais importantes manobras, abrindo-se num gigantesco delta de áreas cultiváveis graças à excelência do solo negro da região - um dos mais férteis do mundo.

Prodigioso, o Nilo, nessa região, divide-se em dois ramos, o Damieta e o Roseta. É esse último que banha a cidade de Alexandria, fundada por Alexandre, o Grande, e também a própria cidade de Rosetta, onde foi encontrada a famosa pedra com inscrições que permitiram a tradução dos hieróglifos egípcios. Encontrada por um oficial do exército napoleônico, Pierre Bouchard, ela trazia o mesmo texto escrito em grego e em caracteres hieroglíficos. Levada à Europa, foi decifrada pelo francês Jean-François Champollion em 1821. A Pedra de Roseta propiciou o nascimento da moderna egiptologia e, desta forma, trouxe reflexos à economia do país que são sentidos até os dias de hoje.

O Ankh, antigo símbolo da vida do Egito, parece ter o formato de uma chave ou cruz, mas também pode ser visto como uma representação da força do Nilo na região. O eixo principal (o curso do rio) é cortado por outro, radial (a nascente e o poente do sol), e termina numa espécie de círculo achatado (o delta). Três em cada quatro egípcios vivem nesse círculo, em suas terras aluviais, pescando, criando animais domésticos, cultivando a terra e, enfim, constituindo uma nação - ainda que com seus percalços. Em meio à extrema aridez, só mesmo o improvável poderia prover a vida em formas tão magníficas como acontece no Egito. Esse é o rio Nilo.