astante vaidosas que eram, as mulheres egípcias dispunham de vários apetrechos para cuidarem de sua higiene e beleza. Os escrínios de toucador — relata a egiptóloga Christiane Noblecourt — continham os mais belos recipientes e pequenos frascos de perfume que possam existir, em madeiras preciosas provenientes sobretudo da Núbia e do Sudão, em marfim, em vidros multicores e translúcidos e, às vezes, até transparentes. Mas os de alabastro eram os mais comuns, pois esse material frio era excelente para a conservação de cremes e perfumes. Esses escrínios tinham as mais variadas formas: a da romã, da mandrágora, de cachos de uva, de lótus e de papiros, naturalmente, ou ainda inspiravam-se nos animais, patos dos pântanos, íbis de patas ligadas, pequenos macacos pousados nas bordas de um cadinho ou segurando nas mãos a tigelinha de antimônio. As mais belas colheres de pintura ou unguentos eram feitas conforme a imagem de uma sedutora nadadora nua que empurrava diante de si um pato cujo corpo, de asas articuladas, servia de recipiente. Cofres muito elaborados eram concebidos especialmente para receber todo esse material miúdo, tão luxuoso; câmaras interiores e chanfraduras na tampa ou nas gavetas esperavam que se recolocassem no lugar os pequenos objetos.

anto para as mulheres quanto para os homens, os cuidados de higiene com o corpo, pelo menos entre as classes mais altas da sociedade egípcia, desempenhavam importante papel. Desde a II dinastia que temos documentado, por exemplo, o uso do banho para a limpeza do físico. Ao que parece, até a ducha já era conhecida: utilizava-se para tanto uma peneira ou uma cesta. É claro que o mais comum era que se tomasse banho no Nilo, mas as residências refinadas dispunham de um banheiro reservado com privada. Nas proximidades da pirâmide do faraó Sesostris II (c. 1897 a 1878 a.C.) foi encontrada uma vila de operários e funcionários que trabalharam na construção daquele monumento e em suas casas havia um banheiro ao lado do dormitório. Na cidade de Tell el-Amarna as residências dos funcionários também tinham uma sala de banho com uma banheira enterrada no solo e privadas separadas por um muro. Nos palácios reais do Império Antigo a presença das salas de banho está confirmada pela existência do título da função de diretor da sala de banhos. Para se lavarem, os egípcios usavam uma bacia e um jarro provido de bico, no qual colocavam a água. Ao lavarem os dentes, desinfetavam a água com uma espécie de sal. Usavam ainda uma pasta solidificada contendo uma substância desengordurante como, por exemplo, cinza, que levantava espuma quando esfregada.

s homens utilizavam com frequência os serviços profissionais dos barbeiros, pedicuros e manicuras, enquanto que as mulheres não dispensavam o cabeleireiro. Os barbeiros usavam uma navalha de barba que, durante o Império Novo, consistia de uma pequena peça chata de metal com formato não muito diferente de um machado em miniatura e com bordas cortantes, a qual era fixada em um cabo curvo de madeira e girava entre os dedos do profissional. Tais apetrechos eram guardados em estojos de couro dotados de uma asa, os quais, por sua vez, eram acondicionados em elegantes escrínios de ébano. Os mesmos escrínios eram empregados pelos pedicuros e manicuras para guardar suas pinças, raspadores e tesouras de trabalho. As pessoas de poucos recursos usavam os serviços de barbeiros que se instalavam ao ar livre, embaixo de árvores. Enquanto esperavam vez, — nos conta o egiptólogo Pierre Montet — conversavam ou dormiam, sem mesmo se deitarem, curvados, com a cabeça sobre os braços, a fronte apoiada nos joelhos. Algumas vezes sentavam-se dois no mesmo tamborete. O cliente, cuja vez chegava, sentava-se num tripé e confiava a cabeça ao barbeiro que lha tornava lisa como um seixo da praia.

ntre os cosméticos incluiam-se diversas essências e unguentos, diferentes conforme a estação do ano, que eram acondicionados em vasos de cristal, de alabastro ou de obsidiana. Para usá-los as pessoas deitavam-se em banquetas de alvenaria recobertas com esteiras e então as criadas lhes massageavam os corpos espalhando os produtos. Aplicados em ambos os sexos, um dos principais objetivos do emprego de tais cosméticos era impedir que a pele secasse sob o sol ardente. Outros elementos indispensáveis eram o pó verde (malaquita) e o pó negro (galena) usados para a pintura dos olhos. Essa pintura sobre as pálpebras e as sobrancelhas, além de alongar os olhos, o que era estéticamente agradável para os antigos egípcios, servia de proteção da vista contra as oftalmias causadas pela reverberação solar, pelo vento, pela poeira ou pelos insetos.

ão faltavam produtos de beleza — escreve Pierre Montet. Para combater os maus cheiros do corpo na época do calor, os egípcios friccionavam-se durante vários dias com um unguento à base de terebentina e de incenso que eram misturados com certos grãos não especificados e com um perfume. Nos lugares onde se articulam duas partes do corpo deviam aplicar-se outros produtos. Havia preparados para embelezar e rejuvenescer a epiderme, para enrijar a carne, e outros para combater as manchas e as verrugas do rosto. Para enrijar a carne empregava-se, por exemplo, o pó de alabastro, o pó de natrum, sal do norte misturado com mel. Outras fórmulas eram conseguidas à base do leite de burra. O couro cabeludo era objeto de cuidados incessantes. Ora se tratava de suprimir os cabelos grisalhos, evitar o embranquecer das sobrancelhas, ora se tratava de combater a calvície, ou de fazer crescer o cabelo. Sabia-se que o óleo de rícino era adequado a esta higiene especial. Mas os egípcios também sabiam libertar-se dos pelos e das penugens supérfluas.

lém das roupas e dos cosméticos, os penteados e os adereços tinham igualmente um papel marcante na aparência da mulher egípcia. A peruca, sobretudo a título de elemento componente da vestimenta dos funcionários ou do círculo da corte, tinha uma importância particular. Os dois tipos principais de penteados artificiais masculinos eram a peruca de pequenos cachos e a peruca com longas mechas de cabelo caindo do crânio até os ombros. Na XVIII dinastia a moda fez nascer uma nova forma de peruca misturando pequenos cachos e mechas lisas. Quanto aos penteados femininos, durante o Império Antigo eles desciam em duas espessas mechas sobre o peito e esse estilo se manteve com algumas pequenas modificações até o Império Novo. Em meados da XVIII dinastia tornou-se moda uma série de novos penteados. Em todas as épocas as mulheres se preocuparam com os seus penteados e com suas perucas, pois a cabeleira era um dos fetiches eróticos do homem egípcio.

                         

 

unidas de um espelho formado por um disco polido de cobre, bronze ou prata e dotado de um cabo de ébano, ouro, faiança ou marfim (acima à esquerda), as mulheres se entregavam aos cuidados das cabeleireiras ou tratavam elas mesmas de seus penteados. Tais espelhos, usados desde o princípio do período dinástico, empregavam aqueles metais por fornecerem uma boa superfície refletora e eram confeccionados de forma a não deformarem os rostos que deviam refletir. A face dos espelhos não era decorada antes da XXI dinastia, quando cenas de significado ritual passaram, às vezes, a ser gravadas neles. Os cabos desses artefatos podiam ter, entre outras, a forma de uma haste e umbela de papiro, de dois falcões protetores, de uma cabeça da deusa Hátor, ou de uma figura de uma jovem nua, simbolizando a mesma deusa, madrinha das mulheres. Espelhos de vidro só surgiram no período romano. Enquanto trabalhavam com uma mecha de cabelo, as mulheres prendiam o restante deles com um objeto decorado como o que se vê na figura menor abaixo, o qual também servia como pinça para extração de espinhas ou remoção de pelos. Usavam-se pentes grossos (acima à direita), simples ou duplos, que também podiam ser decorados. Os penteados chegavam a ser bastante complicados e até a ostentar enfeites como, por exemplo, a representação de um cavaleiro galopando, que era um dos adornos mais apreciados pelas mulheres do Império Novo.